Por que o português é o melhor idioma para a música


A forró party in Lapa, Rio de Janeiro. Courtesy of and copyright by the illustrious Johanna Thomé de Souza.
Forró em Lapa, Rio de Janeiro. Desenho de Johanna Thomé de Souza.

É seguro pressupor que, oh, quase três quartos dos melhores cantores do mundo vêm de terras onde se fala português. Temos marrabenta em Moçambique, samba rock e samba hip hop em São Paulo, fado em Portugal, bossa nova no Rio, forró e frevo no Nordeste e música caipira no Centro-Oeste brasileiro, semba em Angola… Vamos parar por aqui, mas uma taxonomia completa dos sons maravilhosos das terras lusófonas poderia seguir indefinidamente. Se você não está convencido de que os falantes do português são responsáveis pela maioria das melhores músicas do mundo, dedique algum tempo para escoltar os ritmos acima e me diga se não concorda.

A verdadeira pergunta é: o que torna o português tão perfeito para a música? Eu tenho algumas teorias.

1. O português emprega uma variedade enorme de sons vocálicos. Lembre-se de que uma vogal é o que acontece quando você empurra o som para fora da sua garganta, sem bloqueá-lo com a língua, os dentes, os lábios, etc. (O bloqueio ou controle do som cria uma consoante).

Para começar, há vários sons básicos de vogal única (“dígrafos”). Compare o que seu aparelho fonador pode fazer, por exemplo, ao falar português, com o que acontece quando você emprega seu primo menos interessante, o espanhol.

Portuguese vowels (São Paulo)
Vogais de português (São Paulo)
Spanish vowels
Vogais de espanhol

E essas vogais básicas são realmente só o começo. Algumas delas são ocasionalmente pronunciadas pelo nariz (ou seja, as vogais nasais). Algumas delas são pronunciadas tanto na versão “fechada” quanto “aberta” (isso pode ser muito difícil para falantes do inglês dominar). Por fim, o português também usa ditongos (duas vogais juntas) e até tritongos (um conjunto de três, muito engraçado para estrangeiros). Um exemplo deste último: “ele delinquiu“.

As vogais são muito importantes para os cantores porque é quando eles abrem mais a garganta. E, quando eles querem estender uma palavra, a maioria escolhe fazer isso na vogal.

Se você pudesse cantar em qualquer língua, você não iria preferir a grande variedade de opções de vogais que o português oferece? E você não acha que um cantor que cresceu falando com essa variedade de vogais teria uma intimidade maior e uma relação mais flexível com seu aparelho fonador?

2. Por outro lado, o português tem um conjunto limitado de consoantes para atrapalhar. Cléa Thomasset, uma cantora francesa de samba e chorinho, explicou-me sua teoria de que as consoantes do português que existem são particularmente percussivas se comparadas às da sua língua nativa; alguém pode empregá-las para marcar o ritmo de maneira mais efetiva. Por exemplo, confira o teatro consonantal de Elis Regina no refrão de “Nega do Cabelo Duro”:

3. A propósito, as consoantes do português tendem a aparecer no início das palavras e sílabas, raramente no final. Isso deixa seu aparelho fonador aberto para estender o final das sílabas e sem pressa para encerrá-las para chegar à consoante final (para compreender completamente uma sílaba em várias línguas, você deve esperar pela consoante no final). Não fechar o aparelho fonador também dá um ar de leveza à letra.

4. O som “ão” é relativamente raro em outras línguas, mas bastante comum em português. É bonito, estranho e engraçado: como “ow” do inglês (interjeição que indica dor), mas com o meio da expulsão de ar passando pelo seu nariz. A maior parte das palavras em português que vieram do latim terminam em -ão (comparável com palavras latinas do inglês terminadas em -tion ou -sion). Isso torna o -ão uma terminação bastante comum e disponível para rimas, como na clássica canção de Armando Fernandes, cantada por Clara Nunes:

“Vai manter a tradição

Vai meu bloco tristeza e pé no chão”

5. Diferentemente do mandarim chinês e de algumas línguas africanas, o português não é uma língua tonal; pelo menos, os tons (variações de tons) não geram mudança de significado entre as palavras. E é bastante útil que isso não exista, porque um compositor que levar em conta as mudanças de tom é necessariamente mais limitado nas escolhas de palavras que caberão na melodia.

6. Ao mesmo tempo, como muitas línguas, o português usa mudanças de tom no nível da frase para indicar alguns tipos de significado (surpresa, dúvida, etc.) e, aos meus ouvidos anglófonos pelo menos, essas mudanças são muito pronunciadas. É comum ouvir mesmo a mais masculina voz brasileira escorregar em uma variedade de falsetes em algumas sílabas para dar ênfase. Essa ênfase no significado e na variada gama de tons leva os falantes do português a terem os mesmos benefícios em inteligência musical como os falantes de verdadeiras línguas tonais? Eu estou entrando em uma conjectura aqui, mas talvez…

7. “Saudade“: Os falantes do português dizem que essa palavra não existe em nenhuma outra língua. Na verdade é mais traduzível do que eles imaginam (em bósnio, por exemplo: sevdah é bem parecido, em inglês pode ser mais frequentemente traduzida como “nostalgia“) – mas não vem ao caso. Esse sentimento de nostalgia é celebrado de maneira única nas culturas em que se fala português, e especialmente em suas músicas. Quem mais iria saborear a falta de algo ou de alguém quase ao ponto do êxtase? A saudade parece que surge constantemente na música lusófona, invocada explicitamente ou não. Por exemplo, esta obra-prima de Dorival Caymmi e Jorge Amado, cantada por Cesária Évora e Marisa Monte.

Deve ser tão doce morrer nas ondas verdes do mar, elas cantam, que parece ser um ciúme estranho por um marinheiro que nunca voltou.

Ou esta obra-prima de samba rock:

Carolina é uma mulher muito difícil de esquecer, Seu Jorge canta e faz uma lista de motivos que a tornam assim. Mas ela não atende suas chamadas e ele está se sentindo só. É claro que deve ser amor. E é claro que é motivado pela falta do ser amado. Isso é a essência das saudades.

O clássico de forró de Dominguinhos “Só Quero um Xodó” vai além: as saudades não são por uma pessoa em particular, mas por alguém que estaria desejando amar o queixoso cantor. Confira a versão de Gilberto Gil:

Sim, é disso que tratam as canções de pop e folk em qualquer lugar do mundo. Mas a língua portuguesa tem um vocabulário e uma atitude construída para celebrar essa ideia de saudade mais do que qualquer outra.

8. “Gostoso/gostosa” é um adjetivo que pode significar amável, saboroso, fuckable (fodível), bonito e/ou sensual.  Uma procura em sites de letras de música retorna centenas de exemplos do uso dessa palavra, mas é a atitude que importa. Eu nunca ouvi o termo empregado ironicamente. Em seu uso de palavras descaradamente exultantes como “gostoso”, a língua portuguesa parece que nunca toleraria, digamos, a incessante ironia da cultura hipster americana, ou a secura e acidez do francês. E na música, pelo menos, isso é grande coisa. Ironia e humor na música pop tendem a envelhecer rapidamente. Quando falamos português, elogiamos nossos amados com um entusiasmo sensual. (A única falha é que eles raramente devolvem o favor – veja o ponto anterior.)

9. A geografia do mundo lusófono abrange as Américas, a Europa e a África, e esse intercâmbio histórico (embora marcado por escravidão, genocídio e guerra) deu a seus músicos acesso a algumas das mais fortes tradições musicais do mundo. (As mesmas influências aplicam-se aos quase tão bons estilos musicais criados por cubanos, americanos dos Estados Unidos e negros peruanos.) Os países lusófonos, particularmente o Brasil, são bastante adeptos das absorventes influências musicais de longe e fazer algo totalmente novo a partir delas.

Essas são minhas teorias por enquanto, que nasceram após anos escutando e amando essas músicas. Eu aprendi português simplesmente para entender minhas canções favoritas. Mas eu sou apenas um fã, e adoraria ouvir as opiniões de falantes do português, músicos e outros. Sintam-se à vontade para adicionar seus pensamentos ou correções nos comentários e, obviamente, eu vou atualizar este post assim que tiver novas ideias.

Fecharemos com uma canção de Angola sobre – o que mais? – saudades de um tempo e lugar melhores.

TRADUÇÃO: Filipe Teixeira de O nome disso é mundo (no Facebook) um podcast de entrevistas com brasileiros que moram ou moraram em diferentes lugares no mundo. Publicado toda 4a feira.

DESENHO: Forró na Lapa, Rio de Janeiro, da ilustre Johanna Thomé de Souza. Todos os direitos reservados.


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24 Comments

  1. marcia
    abril 8, 2021
    Responder

    Boa tarde Paulo! Meu nome é Marcia e estou pesquisando temas para o meu TCC e um deles é exatamente a respeito da musicalidade na língua portuguesa. Você teria alguma sugestão de leitura para me indicar? Grata!

  2. The Brazilian
    novembro 4, 2014
    Responder

    Olha os exemplos que colocam, deveriam ter colocado outras musicas como exemplo, Aquarela do Brasil, Legião Urbana, Os Incríveis, Charlie Brown Jr. , Roberto Carlos e Elis Regina são grandes exemplos. O Funk Carioca por outro lado é a escoria da música brasileira, ainda o chaman de cultura.kkkkkkk Rock brasileiro é muito bom sim!

  3. Jesus
    novembro 4, 2014
    Responder

    Olha os exemplos que colocam, deveriam ter colocado outras musicas como exemplo, Aquarela do Brasil, Legião Urbana, Os Incríveis, Charlie Brown Jr. , Roberto Carlos e Elis Regina são grandes exemplos. O Funk Carioca por outro lado é a escoria da música brasileira, ainda o chaman de cultura.kkkkkkk

  4. Nelson
    setembro 6, 2014
    Responder

    Ditongos e tritongos são formados apenas por vogais. Em uruguaio a separação correta das sílabas é u-ru guai-o. Logo, na sílaba guai há ocorrência de um tritongo.

  5. agosto 22, 2014
    Responder

    Funk carioca is not a good kind of music

  6. maio 8, 2014
    Responder

    Oi,
    obrigado pelo artigo que achei bastante interessante!
    Mas além de que me parece demasiado auto-confiante sua afirmação inicial “É seguro pressupor que, oh, quase três quartos dos melhores cantores do mundo vêm de terras onde se fala português.” (aqui na alemanha se conhece tipo 5 músicas em português) quero acrescentar que já o francês contém mais vogais do que o português (compare com o primeiro argumento).
    Agora, palavras como “saudade” não ajudam muito na sua argumentação porque a maioria dos estrangeiros já não entende o que significa quando escutam uma música. Você começou falando da fonética (o que eu acho muito interessante nesse contexto!!) e depois acabou por misturar esse aspeto com uma outra parte da linguistica, pois falou sobre palavras e os respectivos sentidos.
    Mas apesar de tudo, eu também sou um grande fã da música brasileira! 🙂
    Tudo de bom!
    Lukas Müller

  7. março 1, 2014
    Responder

    Alô amigos!, como diria Nelson Motta.
    Muito bom artigo, mas discordo de alguns pontos.
    Basicamente, a autora se apaixonou pela Bossa Nova, daí sua admiração na forma de auto-sugestão. Soube de uma japonesa, funcionária do Banco do Brasil em Tóquio, que seguiu a mesma trilha a partir da Bossa Nova.
    Sinto exatamente a mesma coisa quanto ao espanhol, desmerecido no artigo, porque me apaixonei pelo Bolero. E minha esposa idem, com relação ao francês, dado seu gosto pelo Zouk. E assim sei de gente que ama o Tango, e a partir daí tudo o que diga respeito à Argentina, etc.
    Então, pra mim, embora o português brasileiro (de algumas regiões, assim como nem todos os “hispanohablantes” me agradam) seja mesmo bonito, trata-se desse afeto meio inconsciente da autora.
    Eu acho que o segredo da boa música está no seu espírito, que quase se confunde com sua origem. Boleros, por exemplo, TEM QUE ser ouvidos em espanhol (ouça “Perfídia” no original e depois em português; ou “Besame Mucho” no original e depois em inglês, depois me diga se não tenho razão); Rock, em inglês; Zouk, em francês (o de Cabo Verde parece bonito, até você ouve a mesma música em francês); Ópera em italiano; Fado em português lusitano; Samba em português brasileiro, especialmente com sotaque do Rio de Janeiro; canto gregoriano em latim, etc, etc.
    Óbvio, há exceções, como a ópera The Messiah, de Handel, maravilhosa em inglês!, entre outras que agora não me vem à mente – mas isso confirma a regra, pois arremedos medonhos como “Girl from Ipanema” e “Hey Jude” (versão Kiko Zambianchi) não me deixam mentir.
    É assim que sinto. Mas o tema é relevante e o artigo ótimo e muito bem escrito.

    • abril 6, 2014
      Responder

      Bem, agradeço os comentarios mas desconcordo com TUDO que você escreveu aquí. Até o meu genero… sou o *autor* desse artigo… não sei como você se equivocou até nesse punto! 😉
      Esses preconceitos que o samba é melhor em português, o rock em inglês, etc… — são preconceitos só, não me interessam nada. Por isso queria investigar com esse artigo se tiver coisas mais profundas na lingua portuguesa mesma que ajudam na música. Acho que encontrei algumas.

  8. fevereiro 26, 2014
    Responder

    Fantástico artigo. Amo o Português, minha língua natal, acho-a a mais bela do mundo ocidental!Se é perfeita para música (sou músico), tanto mais para a poesia!Comparem a pobreza das letras de músicas norte-americanas com as belíssimas letrascriadas por pessoas do naipe de um Chico Buarque de Holanda, Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Lira,Edu Lobo, e muitos outros.Muitos mesmo, que aqui não os cito para não me alongar.E as letras das canções em Inglês, por exemplo, abordam quase que exclusivamente o amor.Uma pobreza só!

  9. fevereiro 23, 2014
    Responder

    A língua portuguesa escorrega pela minha boca e vibra o meu corpo todo com o prazer e a alegria da música da minha terra, da música da minha alma. Amo o privilégio de ser um falante nativo desta preciosidade! Belíssimo artigo, parabéns!

  10. fevereiro 17, 2014
    Responder

    Muito bom o artigo. Falta ,ainda o Galego do que tudo nasceu. Fica por cá , nesta terrinha ao norde da Paninsula Ibérica. Mãe abandonada por seus filhos e filhas que a esquecem. Cheia de morrinha, saudade e senhardá ( ou senhardade). Cantando cantigas entre as fragas dormidas, e dançando ao pé dos mil rios que lhe percorrem a pele. A fertilizam, adubam-na e alumeam .Docemente a olhar o mar por onde seus filhos e filhas partiram um dia , na procura duma vida mais abastada do que na Terra mãe. SEmpre cultivando a sua dor da ausência polo que foi ou cre que tem sido. Ainda melâncolica por um futuro que nem sabe se tera.

  11. janeiro 22, 2014
    Responder

    Adorei o texto! Traduziu o q eu ja sentia há muito tempo como brasileiro q conhece um pouquinho de outras línguas. Devo somente esclarecer q as palavras “uruguaio” e “paraguaio” (e raríssimas derivadas e neologismos, como “brasiguaio” – brasileiros q foram viver no Paraguai na década de 1980 e são donos de terras) não são “quadritongos” (classificação q não existe, aliás), mas sim tritongos. São 3 vogais localizadas na mesma sílaba (“uai”); o “gu” antes delas forma um grupo fonal único, o dígrafo (assim como “qu”, “rr”, “ss” e “sc”). Sim, a gramática portuguesa é cheia de meandros!

  12. janeiro 21, 2014
    Responder

    Muito interessante esta abordagem. Até os comentários têm razão de ser, complementando-se entre si, ainda que num caso ou noutro (raros) não esteja (eu) totalmente de acordo.
    Mas sem dúvida que, no âmbito em que a questão é tratada, a língua de Camões é um caso à parte, no contexto global.
    Quanto à sua importância a todos os títulos, no meu modesto entender, trata-se do mais completo e perfeito idioma do mundo.
    S. O. S.

  13. janeiro 19, 2014
    Responder

    Ailton, achas mesmo que não encaixa?

    http://youtu.be/dF8RknPX3Tw

    Eu até concordo que o português do Brasil não é lá muito bom para o rock (ainda que haja ótimas bandas a fazer rock no Brasil. Pato Fu, por exemplo; generalizar costuma ser má ideia), mas nós, em Portugal, temos muito rock com tudo no lugar.

    Mais dois exemplos:

    http://youtu.be/sr1U_ezsSvg

    http://youtu.be/IZUQHbXTQf4

    Léo, linguisticamente, o português de Portugal tem todas as vogais que tem o do Brasil e mais algumas. Tem todas as vogais abertas, e tem uma variedade maior de vogais fechadas (e eis o motivo de te parecer truncado). Por outro lado, é verdade que a divisão silábica é menos marcada no português de Portugal, mas os cantores resolvem esse problema marcando-a, ou não, conforme dê mais jeito no contexto de cada canção. O último link tem um bom exemplo disso. Às tantas a letra diz “tenho coisas PRA fazer / tenho vidas PARA acompanhar”.

    Mas no fundo português é português, venha de onde vier. E quando se misturam os sotaques, às vezes aparecem perfeitas maravilhas. Como esta:

    http://youtu.be/9mUZrJfh9EM

  14. janeiro 17, 2014
    Responder

    Muito interessante! Tem uma música brasileira, de Toninho Horta e Fernando Brant, que ironiza a ideia de que o inglês seria uma língua mais musical. A música se cham “Falso Inglês” e aqui está um link do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=Z_S0iWKXl44

  15. janeiro 15, 2014
    Responder

    Como músico e compositor de letras, devo dizer ser muito interessante a tese pois, realmente, a profusão de sons vocálicos e a adequação das consoantes tornam o Português uma língua especialmente vocacionada à Música.
    Acho que caberia apenas uma retificação: sentir falta não é o mesmo de sentir saudade. Quando Dominguinhos diz “que falta eu sinto de um bem” está se referindo à ausência da sensação de ter uma pessoa consigo (para amar). Portanto, não equivale a sentir saudade, pois isso envolve mais propriamente um “mix” dos sentimentos de melancolia, nostalgia e tristeza. Saudade seria a falta “qualificada”.
    E a propósito disso, parece que o texto cometeu um deslize (não sei se original ou da tradução), quando a respeito da canção do Xodó, diz: “as saudades não são por uma pessoa em particular, mas por alguém que estaria desejando amar o queixoso cantor”. O certo, a meu ver, seria: “as saudades não são por uma pessoa em particular, mas por alguém que o queixoso cantor estaria desejando amar”. Ou, melhor ainda: “as saudades não são de uma pessoa em particular, mas de alguém a quem o queixoso cantor estaria desejando amar”. Mas reconheço que mesmo para nós, falantes da língua portuguesa, a transmissão da ideia é um pouco difícil, dada a duplicidade de sentidos que a limitação funcional dos termos enseja.
    Parabéns pelo texto!

  16. Dimitri
    dezembro 11, 2013
    Responder

    Quanto às línguas tonais, acho que o argumento não vale. Em mandarim, artistas basicamente ignoram os tons quando cantam (e inclusive isso abre muitas possibilidades de duplo sentido e jogo de palavras.)

    • janeiro 16, 2014
      Responder

      Eu tem lido o contrario dela parte de alguns compositores chineses. Seria interessante saber mais, e também dos africanos.

  17. Léo
    dezembro 8, 2013
    Responder

    Sinceramente eu atribuiria o maior peso ao último motivo, a variedade de estilos, provavelmente devido as variedade histórica de etnias, e talvez também por uma receptividade do brasileiro (que no limite se confunde com sentimento de inferioridade) beneficia permitindo a fusão de bons estilos internacionais e nacionais. Possivelmente também a uma natural musicalidade do povo aí não saberia especular por quê. Em termos fonéticos, as vantagens apontadas talvez se restrinjam ao português do brasil (não sei dos demais países de lingua portuguesa, mas creio que se aproximem mais dos lusitanos). Acho o português de portugal meio truncado, não tem a marcação silábica e sons abertos do português brasileiro.

  18. Tipsy Pilgrim
    novembro 28, 2013
    Responder

    Não sei se "uruguaio" aparece em muitas canções, mas é engraçado pronuncia-lo sim!
    Não esqueci da Ásia, simplesmente nunca ouvi a música em português de la. Talvez outro viagem, outro artigo…

  19. Luiz Antonio de Queirós Mattoso
    novembro 27, 2013
    Responder

    A autora citou ditongos e tritongos mas se esqueceu dos raríssimos quadritongos, como na palavra "uruguaio".
    Falando a presença da nossa língua pelos continentes, esqueceu-se da Ásia. Fala-se português em Macau e em Timor-Leste.

  20. Ailton
    novembro 26, 2013
    Responder

    Achei fantástico a argumentação e a apresentação dos dados, de fato acho a música brasileira muito rica, e o português se encaixa perfeitamente à MPB e a Bossa Nova. Porém, acho o português e o espanhol péssimos para o rock, e o inglês pra mim é a melhor língua para esse ritmo. Rock em outras línguas a não ser o inglês é uma porcaria, não encaixa, não sei te dizer, mas deixam muito a desejar.

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